23 de jun. de 2007

Personagens de Dom Casmurro

Bento e CapitolinaSão os protagonistas da obra e são caracterizados de forma muito dramática.Crescem juntas, apaixonam-se, fazem planos, casam-se e separam-se - mas trata-se de personalidades contrastantes e complementares: são personagens esféricas:
Capitu (Capitolina)Seu perfil é pincelado paulatinamente no transcorrer do livro.Aos 14 Bento vê Capitu como uma adolescente atraente, mãos bem cuidadas, e, apesar de pertencer a classe social inferior, detentora de vários encantos.Mas é a dimensão moral de Capitu que demanda pintura e análise minuciosas. Caracterizam-na alguns aspectos importantes:Olhos de cigana oblíqua e dissimulada(visão de José Dias, e se pensarmos que os olhos são o espelho da alma...);Olhos de ressaca(sensação de Bentinho, apaixonado e atraído pela força irresistível desses olhos);Fria e calculista (acusações de prima Justina, que inveja Capitu); Inteligência viva, sagaz; extrema capacidade de reflexão e ascendência sobre o menino (... era muito mais mulher que eu homem); Capacidade de simular e/ou dissimular sentimentos e emoções, auto-controle diante de situações comprometedoras ou conflituosas (o episódio do muro; do 1º beijo; da ida do menino para o seminário; do cavaleiro desfilando diante de sua janela etc); Traços físicos e morais semelhantes aos da mãe de Sancha;O nome: Capitolina tanto lembra Capitólio quanto capitã, caput, cabeça...Trata-se, pois, de personagem densa e rica, pela maneira ambígua, parcial e freqüentemente contraditória com que D. Casmurro a retrata (através de impressões de pessoas que a invejavam ou não gostavam dela, e de seu ressentimento de marido traído; por outro lado, mulher fascinante e encantadora de cuja presença e amor nunca conseguiu esquecer-se, num sentimento ambíguo nos limites do amor e do ódio/desprezo).
Bento SantiagoPseudo-autor, narrador e personagem principal. Seu nome já sugere alguns traços de personalidade (Bento + Santiago - abençoado e predestinado pela mãe ao sacrifício religioso). O menino cresce acreditando que vai ser padre, ingênuo e submisso, é preciso que outras pessoas revelem a ele seu amor por Capitu.Principais traços de seu comportamento:Excesso de subjetividade, emocionalismo e temperamento sonhador;Submissão total à vontade da mãe;Demora no amadurecimento psicológico devido à superproteção familiar;Encantamento e dependência total em relação a Capitu;Insegurança e incapacidade de auto-domínio em situações de tensão;
O relacionamento estranho com Escobar desde o seminário.Ciúme doentio e descontrolado, motivo principal de seus sofrimentos: somado à imaginação e falta de objetividade, tal sentimento faz com que se acredite traído pela mulher e pelo amigo e destrói-lhe a vida e a felicidade, transformando-o num velho pessimista, amargo, cético em relação a tudo e a todos.Nas suas evocações, para cada prova de culpabilidade de Capitu o próprio narrador sugere sucessivas contraprovas, deixando o leitor desnorteado.
EscobarEscobar aparece a Bentinho como um garoto de modos fugitivos que cessavam quando ele queria e que, com o tempo, foi conquistando-lhe a confiança e a alma.Bem mais decidido que Bentinho, Escobar apresentava rara habilidade intelectual, raciocínio rápido e gostava de comércio - via o seminário apenas como etapa da vida. Longe da família, que morava no Paraná, tomava as decisões por sua conta e risco.Sua aproximação com a família do amigo apresenta traços de ambigüidade. Conquista logo a confiança e a amizade de quase todos, apesar da ressalva sobre seus olhos fugidios e das insinuações de prima Justina - de que lhe interessava o dinheiro de D. Glória. Usando de um artifício, consegue saber de Bentinho sobre o montante da fortuna dos Santiago.O narrador apresenta-o como um protótipo de pessoa esperta e calculista se aproveita das relações de amizade para subir na vida e, inescrupulosa, capaz de trair friamente seu melhor amigo. Mesmo depois de morto, influi decisivamente na dissolução da vida do casal Bento-Capitu.
José DiasTipo humano com traços caricaturais de personagem de costumes, agregado à família desde os tempos em que o pai de Bentinho vivia e a quem se apresentara como médico homeopata. Caracteriza-se pela submissão, atitudes de bajulação para conseguir ou manter privilégios e um traço lingüístico - o uso de superlativos.
Dna. GlóriaViúva abastada de Pedro de Albuquerque Santiago, ao perder o 1º filho faz uma promessa de oferecer o segundo a Deus, caso vingasse. Fiel à memória do marido, disfarça a juventude e a beleza com roupas e costumes austeros. Mima o filho, cumulando-o de cuidados. Arrepende-se do sacrifício a que submeteria o filho, e é com alívio e gratidão que estimula o interesse de Capitu e aceita a sugestão de Escobar para livrar o filho do seminário. Matriarca poderosa, aglutina a família ao seu redor e administra seus bens com eficiência. Pode ser identificada como retrato da mulher brasileira do século XIX.As demais personagens - Tio Cosme, Prima Justina, Pádua e a mulher, Manduca, Sancha - constituem parte do universo particular que gravita em torno de Bentinho. Ezequiel Albuquerque de Santiago, o filho tão desejado e depois rejeitado, é visto por D. Casmurro como o bode expiatório do seu fracasso conjugal. Devido à fantástica semelhança com Escobar, constitui-se, ironicamente, na prova científica e definitiva do adultério de Capitu. Inteligente e imitador desagrega a família. Idolatra o pai e nunca conseguiu entender a rejeição e o porquê da separação do casal - vítima inocente que purifica pelo sacrifício os pecados dos adultos.

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